terça-feira, 10 de maio de 2011

Não tem nada a ver com nada...

"Não tem nada a ver com homofobia", diz o jornalista Rica Perrone sobre jogador gay Michael

Coisas que todo gordo sabe: sempre há alguém regulando o que ele come. Comida demais resulta em irônicos “tá sem fome hoje?”; comida de menos resulta em piedosos “pode comer, só uma vez não engorda”. O fiscal da salada sabe quanto de azeite o gordo usou e tem certeza que, se ele fizesse uma caminhada de 40 minutos todos os dias e cortasse o açúcar, não estaria desse tamanho.

Gordo é o cara que, quando entra num rodízio de pizza, escuta a mesa ao lado fazer piadinha sobre a comida acabar agora que o comilão chegou.
Toda mulher sabe que, ao fazer uma baliza, terá uma platéia de desocupados acompanhando o processo. Estacionar em frente à padaria é arriscadíssimo: todo mundo na fila do pão, sem ter mais o que fazer, vai esperar que a moça sofra pra enfiar o carro naquela vaguinha. E vão comentar uns com os outros que “mulher no volante é perigo constante”.
Mulher é aquele ser que, a qualquer pequeno deslize no trânsito, acaba ouvindo a máxima “vai pilotar fogão”.


Quando um homossexual resolve fazer uma recepção calorosa a um amigo em um lugar público, ele sabe que as pessoas em volta comentarão. Alguns dirão que são namoradinhos – mesmo que sejam só amigos –, outros darão risadas exclamando “na minha terra, a gente mata esse tipo no ninho”.

Homossexual é quem, ao expressar afetividade, vai ser chamado baixinho de “moça” ou de “machona” por quem está ao lado.
O negro sabe que, se dirigir um carro caro, vai ser confundido com motorista ou jogador de futebol, como se fossem as únicas possibilidades do mundo todo. Em situações menos generosas, ouvirá piadinhas sobre quando ele roubou aquela caranga.

Negro é o cidadão que, ao ser bem sucedido, vai ouvir de tudo – exceto que ele foi merecedor.

Todo mundo tem direito a ser gordo, desde que não saia de casa e não use roupa que mostre o corpo. E a mulher pode fazer tudo, desde que não dirija, não se candidate a cargos que exijam inteligência e mantenha a casa limpa. Pode ser homossexual quem quiser, só não quero ver pegar na mão do namorado e dar risinhos do meu lado. E ser negro também não é problema, mas eu vou cruzar a rua agora porque tem um meio mal-vestido vindo em minha direção.

É isso que Rica Perrone pensa: você pode, desde que...

É tudo carinho, é tudo normal. Não entendam errado; é praticamente uma tradição. É assim desde que o mundo é mundo. Vamos mudar agora pra que?

Só pra lembrar: se você é homem, branco, heterossexual, magro e classe média/alta, você pode tudo. Inclusive achar isso tudo um exagero.

Postado por Letícia Simoni JunqueiraPostado por Letícia Simoni Junqueira

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Um comentário:

  1. Não digas nada!
    Nem mesmo a verdade
    Há tanta suavidade em nada se dizer
    E tudo se entender -
    Tudo metade
    De sentir e de ver...
    Não digas nada
    Deixa esquecer

    Talvez que amanhã
    Em outra paisagem
    Digas que foi vã
    Toda essa viagem
    Até onde quis
    Ser quem me agrada...
    Mas ali fui feliz
    Não digas nada.

    Fernando Pessoa

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