
A cuia era mergulhada num grande recipiente com um líquido amargo e passada de mão em mão para que cada um dos integrantes da tribo sorvesse sua parte e a passasse adiante. “Saber que a dor que estava sentindo não iria durar para sempre me aliviou demais.
Vi que era minha hora de beber da cuia, mas que, depois, ela seria passada à frente, para que outra pessoa pudesse experimentála”, conta Flávia. Quer dizer, de uma vez só e num curto passeio, a moça aprendeu algumas das grandes lições da vida: que o sofrimento nos torna iguais enquanto seres humanos, que todos passamos por ele e que exatamente por haver provado desse gosto é que podemos ser solidários com quem experimenta seu quinhão de amargor. A dor da perda pode sintetizar todas as dores. Ou seja, algo que se tinha como garantido simplesmente nos escorreu pelos dedos e não dá mais para recuperar. Acabou-se. Seja a perda de um amor, seja de um trabalho, da saúde, do prestígio ou da autoestima, enfim, de qualquer coisa que julguemos nossa, o fato é que nos encontramos diante da dor inexorável de quem perdeu. E esse sentimento pode nos afetar profundamente. A sabedoria, porém, está em saber que há diferentes maneiras de viver e reagir diante da perda, e ao doloroso período que a segue. É útil que conheçamos ao menos algumas delas.
Porque, mais cedo ou mais tarde, vai nos chegar a hora da cuia.
VIDA SIMPLES - 11/2010
{ Eu perco, tu perdes, ele perde } - Chá-tice
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